Não é difícil encontrar pais que exaltem a desenvoltura de sua prole com celulares e computadores. Sem ter o cérebro condicionado pelo passado, as gerações de nativos digitais adotam essas novas tecnologias de maneira bastante natural e o fato é que o interesse pelos equipamentos eletrônicos chega muito antes do grande momento de tirar as rodinhas da bicicleta ou da primeira matrícula em uma escola de futebol ou balé.
Diante desse cenário, o uso de tablets e smartphones por crianças pequenas vem cada vez mais preocupando especialistas da área da saúde e educação. Mesmo sem saber ler, os pequenos conseguem escolher filmes, jogos ou ver fotos. E os pais se sentem menos culpados por achar que usando os aparelhos as crianças estão aprendendo com os aplicativos.
Não há qualquer prova de que navegar num tablet ofereça qualquer benefício educacional ou relativo ao desenvolvimento das crianças. Na verdade, essa navegação tira as crianças de seu elemento natural: brincar, interagir com amigos, adultos, natureza e objetos ao vivo e usar brinquedos comuns que não sejam digitais. Não houve tempo suficiente para observar os efeitos dessas mídias em longo prazo nas crianças pequenas. As aplicações nos tablets e smartphones são limitadas como ferramentas de aprendizagem, visto que tipicamente se focam num tipo de aprendizagem por repetição.
Por outro lado, se não há provas de que navegar num tablet ofereça benfeitorias educacionais, crianças que ficam muito tempo entretidas com a tela de um celular ou computador cada vez mais se mostram ligadas a problemas comportamentais e atrasos no desenvolvimento social. E o mais importante, porém, é que essas mudanças de comportamento afetam o desenvolvimento das crianças como um todo.
Até os três anos a criança aprende muito através do tato, de suas percepções de texturas, temperaturas e, literalmente, pondo a mão na massa, vivendo, e experimentando com liberdade. Porém, muitos aplicativos reduzem a experiência de um bebê em ‘aperte aqui’, incentivando a rapidez dos movimentos com as mãos ou ensinando a criança a ler, a reconhecer letras e números – o que não é indicado nessa fase. Dessa forma, a Academia Americana de Pediatria desencoraja quaisquer tipos de telas para menores de dois anos, por exemplo.
Além da questão educacional, também há o contexto social que deve ser avaliado. É muito comum estar sentado num restaurante e na mesa ao lado ter criança assistindo filme no tablet. Percebe-se que os pais tem uma preocupação exagerada em manter as crianças ocupadas o tempo todo, porém é preciso também deixar a criança viver o vazio para usar a sua imaginação. O tédio não é ruim como os pais pensam, ao contrário, auxilia as crianças a se preparem para os momentos mais aborrecidos que terão ao longo da vida adulta, além disso, auxilia a desenvolver independência. As crianças que têm uma vida completamente preenchida correm o risco de tornarem-se adultos estressados e ansiosos.
Que tal tentar evitar essa ferramenta até que se finalize a primeira infância?